quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Camarada e Colega!

Hoje é um dia especial, afinal Paulo César completa mais um ano de vida. E para comemorar resolvi contar um pouco da sua trajetória de vida que expõe duas das minhas maiores paixões e a contribuição que ele as deu na região do Vale do São Francisco: o PCdoB e o Jornalismo.
Este ensaio pretende contar sua tragetória como radialista. Dessa forma decidi o expor aqui, como uma singela homenagem a este querido camarada e agora colega.
Espero que gostem de conhecer melhor este cara que tanto admiro! Boa leitura!


Perfil do Entrevistado

Paulo César de Andrade Carvalho tem 47 anos de idade, é formado em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB – é radialista, especialista em cerimonial e cantor nas horas vagas. Atualmente trabalha na Assessoria de Comunicação da Prefeitura Municipal de Juazeiro e é Dirigente do PCdoB de Juazeiro.





0.1- Introdução


Em meio à efervescência política da década de 1980, a comunicação alternativa se fortalecia na região do Vale do São Francisco e despertava involuntariamente o interesse de algumas pessoas pela área da comunicação. A ditadura militar já demonstrava indícios de falência e os movimentos sociais se fortaleceram. Logo as organizações perceberam no jornalismo um potencial de difusão ideológica.
A militância política agregada ao rádio demonstra reflexo até a atualidade, onde podemos observar que o jornalismo regionalizado, com caráter político e de denúncia formam as principais características do veículo.
Sendo assim este trabalho propõe-se a debater esta temática através da trajetória do profissional Paulo César de Andrade Carvalho, radialista que teve atuação nos principais veículos comerciais da região e concedeu entrevista para a realização desta pesquisa.


0.2- Da Teologia da Libertação à Militância Política

A Teologia da Libertação surgiu no final da década de 1960 na América Latina defendendo a libertação através dos princípios espirituais e éticos. Para tanto utilizou como ponto de partida a reflexão sobre a pobreza e a exclusão social e como se relacionavam com a fé cristã, visto que esta situação é interpretada como produto de estruturas econômicas e sociais injustas.
Para seus teólogos, o pobre não deve ser enxergado como objeto de caridade e sim o protagonista da sua própria libertação. Por isso, eles propõem uma pastoral organizada nas comunidades eclesiais de base, onde os fiéis de menor poder aquisitivo se encontram e discutem a relação de fé e vida, para juntos buscarem melhores condições de vida através da militância em movimentos sociais ou da política formal.

A igreja está no meio do povo, se relaciona direto com as comunidades e não pode fazer da religião um mero fator de acomodação e de indiferença histórica. Ao contrário, deve proporcionar momentos de indignação, resistência e libertação. Há uma nova sociedade, um novo homem se formando e é preciso acompanhar esta nova formação. (BOFF, 2005)


Em Juazeiro e em toda região, o bispo Dom José Rodrigues foi o responsável pela difusão da Teologia da Libertação. Com perfil progressista também sofreu perseguição política durante o regime militar, mas continuou a desenvolver suas atividades sociais. Um desses trabalhos era desempenhado no setor de comunicação da diocese e transmitido pela Rádio Juazeiro todos os dias.
Uma vez por semana a pastoral da juventude organizava um programa chamado Participação e Comunhão, que tinha como coordenador além de Zé Lima, Paulo César de Andrade Carvalho, na época com aproximadamente 17 anos. O programa envolvia a realidade da juventude popular e era baseado também na Teologia da Libertação. Com duração média de 10 minutos, era finalizado geralmente com uma crônica escrita pelo radialista para tratar um tema específico relacionado à juventude. A redação e edição eram alternadas entre ele e o bispo. O rapaz estabelecia ali o primeiro contato com o rádio e desde então percebeu a carreira que gostaria de seguir.
Orientado pela própria igreja, Paulo César ingressou no movimento estudantil secundarista no Colégio Estadual Rui Barbosa, onde conheceu o Partido Comunista do Brasil – PCdoB - e conseqüentemente o jornal Tribuna da Luta Operária, que era distribuído pelos militantes.
Como no período da Ditadura Militar as organizações políticas de esquerda eram ilegais, os partidos com essa característica encontravam no PMDB espaço para a discussão ideológica e para sua organização. Foi lá que Paulo César conheceu o PCdoB, partido ao qual se filiou em 1981 e que atua até hoje na área de comunicação. Dentro do partido, contribuiu na construção de inúmeras associações de moradores e de sindicatos, visto que as organizações de base eram instrumentos essenciais na luta pela democracia.
O jornal Tribuna da Luta Operária era produzido pelo Comitê Central do PCdoB e era distribuído em todo país. Em Juazeiro Paulo César contribuía junto com alguns estudantes da Faculdade do Médio São Francisco – FAMESF – com a distribuição do impresso, que era o veículo responsável pela difusão da ideologia do partido, visto que sua clandestinidade impedia a utilização de outros meios de organização.
Com o jornal, Paulo César teve seu segundo contato com o rádio, visto que o impresso era lido em um programa político na Emissora Rural. Embora neste momento ele não tenha atuado como radialista, pode acompanhar o processo, onde aumentou a admiração pelo rádio.

0.3- A Vida Política

No ano de 1982, Paulo César já era a principal liderança da igreja. Com o apoio do PCdoB no PMDB e principalmente do bispo Dom José Rodrigues, foi eleito neste ano o vereador mais novo do Brasil, na época com 18 anos.
Como vereador, ficou marcado por organizar intensas manifestações populares. Embora fosse minoria na Câmara, lutou contra a redução do salário dos trabalhadores e defendeu a preservação do rio São Francisco, que sofreu com o vazamento de vinhoto de uma empresa da região. O primeiro mandato durou de 1983 a 1988, período de transição entre o regime militar e a democracia. Em 1988, tentou reeleição e ficou com a primeira suplência, entretanto como o número de vagas de vereador neste ano aumentou, permaneceu no Legislativo.
No ano de 1992, quando tentou o terceiro mandato, não foi eleito e imediatamente ingressou no rádio, desta vez como profissional. Como possuía popularidade nos movimentos sociais e ganhou experiência nos anos como edil, Paulo César agregou estes fatores e não teve dificuldade em apresentar um programa jornalístico na Rádio Cidade AM.
Considerou a primeira experiência muito bonita e gratificante. O fato de compor um programa, de redigir, de falar, de utilizar o microfone, de aprender técnicas apontou o início de uma carreira de sucesso. De lá para cá foram em média 10 programas realizados pelo comunicador.


0.4- Do Programa Participação e Comunhão ao Nas Ondas do GEO

Quando tinha aproximadamente 17 anos, ainda sem experiência na prática radiofônica, Paulo César já começava a traçar sua visão política no programa da juventude da diocese de Juazeiro, denominado Participação e Comunhão.
Como profissional, 10 anos após seu primeiro contato com o rádio, teve uma passagem pela Rádio Cidade AM, primeira emissora onde trabalhou. Lá apresentou um noticiário jornalístico, o Repórter da Cidade, com formato pensado pelo próprio radialista. Na mesma rádio esteve à frente também de um programa de entretenimento, que por influência dele passou a ter um caráter mais político e jornalístico, com música, entrevistas e boletins informativos.
Logo depois entrou para a equipe da Rádio Juazeiro AM, onde foi o segundo apresentador do programa Sem Fronteiras, sendo que o primeiro foi Wilson Duarte, popularmente conhecido como Zé Brocoió. Desse modo, quando ingressou no programa adequou o formato que já estava estabelecido à sua perspectiva, empregando um editorial mais reforçado pensando na regionalização da informação. Na mesma emissora ainda apresentou um programa de jornalismo diário durante as tardes, que atualmente é conduzido por Margarida Benevides.
O radialista teve passagem ainda pela emissora Grande Rio FM, em 2005, onde participou de um programa como repórter de rua, enquanto Daniel Campos era o âncora.
No rádio construiu e apresentou dois programas educativos, unificando sua formação acadêmica em Pedagogia e a paixão pela comunicação. Um em parceria com o professor Raimundo Nonato para o Colégio GEO, denominado Nas Ondas do GEO, e outro para o Colégio Dr. Edson Ribeiro.
Tendo iniciado seu trabalho profissional no rádio em 1992, Paulo César, permaneceu na área até o ano de 2006, entretanto este período não foi interrupto, visto que trabalhou como assessor de imprensa da prefeitura no governo de Joseph Bandeira entre os anos de 2000 e 2004, prestou assessoria política na Câmara municipal e construiu algumas campanhas publicitárias para a política, principalmente para o PCdoB.


0.5- A Relação com o Público

Durante sua trajetória como radialista, Paulo César buscou manter relações de harmonia com o público. Seus programas com caráter jornalístico, de entretenimento ou de educação não abriram espaço para o sensacionalismo, o que despertou a admiração da população. Embora cantasse desde pequeno, a intimidade com o público permitiu que ele fizesse do rádio seu palco de apresentação, principalmente na Emissora Rural e na Rádio Juazeiro que como o mesmo diz o transformaram em um boêmio cantante.
O radialista atribui a boa relação com os ouvintes a sua própria conduta no jornalismo, de procurar sempre fontes verdadeiras, para não correr o risco de noticiar alguma calúnia e perder sua credibilidade.
Talvez a paixão declarada pelo rádio esteja exatamente nesta característica que ele possui de estabelecer relações de confiança e proximidade entre o emissor e o receptor.


A expressão “falar ao pé do rádio” transformou-se em lugar comum, mas reproduz bem a sensação de quem está à frente do microfone contando histórias do cotidiano. O público se identifica com a emissora da cidade e com o radialista de plantão. Tem no âncora a figura que, diariamente, divide emoções e faz companhia, seja pelo rádio sobre a pia, no painel do carro, ou no computador do escritório. (JUNG, 2004,p.39)



Na região do Vale do São Francisco, esta relação fica evidente, pois a audiência do veículo possui níveis consideráveis. A população local identifica no rádio um canal de denúncia, como se ali estivesse representado mais um poder político. Além disso, encontra a forma mais prática de manter-se informado com o que acontece na região sem deixar de exercer simultaneamente outras atividades.
Como Paulo César passou pelas principais emissoras de rádio da região, pôde exercer influência não só no formato dos programas, mas também na construção geral do Radiojornalismo da região.
O radialista reforçou a importância do rádio para a região, pois implementou o jornalismo opinativo e a contextualização política em todos os programas pelos quais passou.
Mesmo possuindo forte ligação com a política, o comunicador revela que não pretende impor sua posição ideológica, e considera de extrema importância expor os dois lados de uma situação quando se depara com estas questões no rádio, para garantir sua competência junto ao público.

Nós refletimos nas nossas opiniões o que somos ideologicamente, mas nunca forcei a barra para imprimir minha ideologia quando estive no rádio. Sempre procurei o equilíbrio, sem deixar de emitir minha opinião, que, reafirmo, é o reflexo de nossas convicções ideológicas. (CARVALHO, 2010)


Dessa forma podemos perceber que o rádio não constitui o reflexo da realidade e sim do processo de interação dos segmentos sociais e da própria mídia. O formato atribuído a um veículo sugere uma maneira de perceber a realidade, mas que está sujeita a avaliação popular e que por isso não é uma via de mão única. Portanto a formação da importância do rádio na região se deve à comunicadores como Paulo César e à própria sociedade que encontra neste veículo um canal de mediação entre a população e o poder público.


0.6- Conclusão

A importância do rádio para a região, a influência de comunicadores na formação do veículo e a relação com o público só podem ser desvendadas através de iniciativas como esta que estimulam o aluno a fugir do estado de inércia e perceber o mundo ao seu redor. Além disso, estimula a prática da pesquisa que é indispensável para quem atua na área de comunicação.
O uso de entrevista como metodologia demonstra uma perspectiva rica no uso de informações através da fonte e suas subjetividades.
Encontrar em Paulo César as contribuições para a construção do formato atual do rádio comercial na região não foi tarefa difícil, pois as vertentes em que atuou no veículo demonstram claramente seu perfil. Voltado para o desenvolvimento do Radiojornalismo, permitiu que este encontrasse forte potencial no jornalismo opinativo, na contextualização, além de o tornar forte canal de denúncia popular. Nos programas de entretenimento, fortaleceu a característica do rádio de manter uma relação de proximidade com o ouvinte. Já nos programas educativos aliou a formação acadêmica à paixão pelo jornalismo e cumpriu o compromisso social de levar educação informal ao público.
Nesse sentido, não é apenas a população que sente a falta do comunicador que está afastado do rádio desde 2006. Ele mesmo admite que embora compreenda sua forte contribuição na assessoria política local, junto ao PCdoB, não vê a hora de retornar a exercer a profissão que ama, a de radialista.


Obs.: Apesar de ser um texto um pouco longo, acho que valeu a pena conhecer um pouco melhor a trajetória desse radialista admirável.

Um comentário:

  1. Paulinho não poderia ter uma homenagem melhor do que essa, parabéns ao nosso camarada Paulo José e a Amanda pela belíssima reportagem.

    ResponderExcluir

Vai passar a vez? Essa é a sua jogada.