terça-feira, 14 de agosto de 2012

Pseudo-rotina

Sete e pouco da manhã. Poucos minutos de atraso contabilizados em um expediente que há muito tempo já começou. A ronda anuncia entre acidentes, roubos, assaltos, homicídios, estupros e sequestros que a cidade mal dormiu em meio a tantos acontecimentos. Tragédia para alguns, trabalho para outros que raramente acordam com tantas opções de notícias. O repórter chega e ao abrir seu roteiro na capa de pauta se depara com poucas informações e muitas dúvidas. “Para onde devo ir? O delegado vai falar? A vítima está no IML? O acusado foi detido?” e sem encontrar muitas respostas parte rumo à delegacia até que a notícia chegue até ele e não o contrário.

Equipes de reportagem na rua anunciam silenciosamente a reunião de pauta da produção. Hoje especialmente, muitas ideias surgem, já que uma chuva de factuais resolveu salvar o dia e guardar as possibilidades para o próximo amanhecer. O cardápio está posto e entre economia, saúde, moda, denúncias, agricultura, cotidiano, entre outros, a discussão se acalora para saber o que tem prioridade, o que deve mudar de foco, o que deve ser de interesse público, bem como o que só serve para ser rejeitado. Eis que alguém olha para o relógio e apressa os colegas para a vida real, para a necessidade de encontrar fontes, personagens, informações, notas, telefones e mais ideias, pois essas, nunca incomodam por excesso.

Hora de ligar para assessorias, hospitais, polícia, corpo de bombeiros, moradores, esportistas e todos que possam nos esclarecer como aquela ideia vaga pode se tornar uma matéria interessante. Momento de entender um pouco de cada assunto e massagear o ego através da falsa ideia de conhecimento amplo. Árduo espaço de tempo reservado para ouvir desaforos do outro lado da linha, inseguranças e timidez diante de câmeras e exaustivas negações de entrevistas. Delicado momento de convencimento, choro e quem sabe venda da alma para alcançar o objetivo de conclusão da matéria, que quando frustrado enche a rotina jornalística de agonia e angústia. Passado o terror, matérias marcadas, informações apuradas e a garantia do sossego, ao menos até o dia seguinte.

Jornal no ar, tranquilidade na redação. Hora de responder e-mails, mensagens do programa interno da empresa, hora de ligar para um entrevistado agradecendo a entrevista e para outro lembrando que sua participação aparecerá em instantes na tela. Número do telefone na televisão, perguntas ao médico convidado para o estúdio. “Qual o nome do senhor? Qual o seu bairro? Sua pergunta? Ah, me desculpe, mas hoje o tema não é este! Obrigada pela participação! As ligações foram encerradas.”. Pausa para assistir aquele VT que deu o maior trabalho para ser produzido e durou menos de um minuto no ar.

O telefone toca novamente. “Será que alguém não viu o rodapé com o escrito ‘ligações encerradas’?” Desta vez não foi o caso. Alguém quer sugerir pauta na recepção. Andar rápido, saudações e sorrisos dados, anotações e promessas feitas. Numa receita rápida retorno quase instantâneo à redação. Desta vez para ouvir o boa tarde dos âncoras do jornal, olhar para o relógio e reproduzir este desejo já pensando no dia de amanhã, que certamente deve oscilar entre o estressante e tedioso, mesmo que não sejam exatamente opostos.

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