sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A Escolha da Política

A descoberta da política sempre é um marco na vida de qualquer pessoa. Não quero aqui dizer que sou melhor que os demais, mas minha relação com a política começou muito antes de eu descobrir o que ela significava.

Segunda filha de pais com tendências de esquerda, sempre percebi a política de uma maneira muito subjetiva no cotidiano. Ir para a escola aos dois anos de idade para que os pais trabalhassem, perceber o esforço deles para garantir condições de estudo, saúde e vida digna sempre foram maneiras experimentais de entender a lógica da ideologia política seguida no berço familiar. Ainda que timidamente na vida social, dentro de casa as posições, convicções e discussões políticas sempre foram presentes.

Ainda no ensino fundamental fui apelidada por um professor de “amiga marxista”. Curiosa, questionei em casa do que se tratava. Foi quando meu pai explicou quem ele era e porque me chamavam assim. Ao invés de me sentir ofendida, fui envolvida por um misto de orgulho e curiosidade. A partir dali passei a fazer leituras tímidas sobre o socialismo e Karl Marx, o cara que havia me garantido um apelido diferente de magrela ou quatro olhos.

Filosofia, economia, democracia, militância quase que naturalmente passaram a fazer parte do meu vocabulário. Não tarde, a primeira eleição que me recordo chegou. Lembro de ter me arrumado para comemorar uma vitória que não veio. O resumo deste episódio teve uma página própria no meu diário: “O pior dia da minha vida”. A escrita traduzia o prematuro entendimento da política e sua complexidade que vão além de vitórias e derrotas nas urnas.

Anos depois, com mais bagagem, leitura e desejo motivei a construção do Grêmio Estudantil no Colégio Salesiano que estudava, ainda quando morava no Mato Grosso do Sul. Mesmo derrotada nas urnas garanti a primeira página no jornal influente do Estado numa campanha contra a corrupção. Ainda tomada pelo espírito revolucionário próprio da juventude me filiei ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e conheci a União da Juventude Socialista (UJS). Era uma necessidada de demonstrar segurança numa ideologia e vontade de estar em um lado definido, de uma verdade.

E a atitude surtiu efeito. No plebiscito sobre desarmamento convenci toda a família a votar na opinião que eu defendia. Talvez mais pela carga política que um partidarismo traz do que propriamente pelo poder de argumentação.

Se seguiram filiações na família, amigos, desconhecidos. Mudança de cidade, Estado, curso superior e o mesmo hábito discutir a política em casa, mas agora, também fora dela. Estágio no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Juazeiro (STRJ), Congresso da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), União dos Estudantes da Bahia (UEB), União Nacional dos Estudantes (UNE), Conferências Municipal e Estadual de Juventude, Congressos partidários, participação no Diretório Acadêmico de Engenharia Elétrica (DAEEL), no Diretório Central dos Estudantes (DCE) e tantas outras siglas que representam uma luta cotidiana.

As mudanças se estenderam à opção de curso superior e a relação com a política ganhou novos ares. Mesmo ainda incorporando a sigla do Centro Acadêmico de Comunicação Social – Jornalismo em Multimeios (CaCos), UJS e PC do B, a militância e participação precisaram dividir espaço com os desafios do jornalismo. Dolorosos desafios, é verdade, mas necessários para o bom exercício da profissão escolhida.

Ainda que discorde de opiniões que irredutivelmente dizem que jornalista não pode ter partido ou opinião cedi aos interesses da tal ocupação dos espaços exposta por Marx. Seja na empresa de estágio ou no silêncio na campanha política experimento outros formatos e texturas do que considero política. Não mais com o pesar e drama habitual que descrevia as derrotas no diário e longe dos Sindicatos e da liderança nas siglas, hoje continuo vivenciando a política e descobrindo suas novas manifestações, seja nos estudos de Ciberdemocracia, ou na disputa de espaços políticos na Universidade.

A certeza de que todo mundo precisa de um lado, se mantém e a política também escolheu o seu lado que é estar na minha companhia. Assim, a política sempre encontra uma maneira de se manifestar em cada um, para minha sorte se manifesta em mim de forma latente, eterna.


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