sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Documentário “Nós que aqui estamos por vós esperamos”: Uma reflexão


A modernidade trouxe consigo uma série de características e valores, todos atrelados ao modelo econômico adotado pela maioria dos países do globo. O século XX foi um divisor de águas para implantação e entendimento deste modelo, já que contou com grandes revoluções capazes de modificar as lógicas social, política e econômica.


As alterações no modo de produção e consumo estão presentes em quase todas as ações exercidas no cotidiano. A lógica fordista, onde a linha de produção é dividida entre diversas pessoas com funções específicas, é perdurada até hoje no que diz respeito ao exercício do jornalismo. Em veículos como a televisão esta dinâmica se apresenta claramente, pois enquanto o produtor pensa e apura as pautas, o repórter faz entrevistas e escreve o texto, o cinegrafista capta imagens, o editor de texto o revisa, o editor de imagens as coloca na matéria, o editor monta o jornal e os apresentadores expõem suas imagens e trazem as matérias para os telespectadores. Tudo numa lógica definida, engessada, onde cada um sabe seu papel, sua tarefa, sem muito refletir sobre ela. Diferente do que o senso comum leva a crer, a atividade jornalística pouco reflete, pouco problematiza e muito mecaniza e reproduz.

Ainda assim, a falta de reflexão trazida pela modernidade para algumas profissões como o jornalismo, está longe de ser sua pior face. Os valores construídos na sociedade do mecanicismo - consumismo – globalizada são ainda mais graves para a formação cidadã. O individualismo e caracterização de alguns grupos como inferiores demonstra que esta lógica não existe para ser justa ou igualitária. O documentário “Nós que aqui estamos por vós esperamos” possui inúmeras frases e imagens de efeito que destacam esta lógica. Aqui destacarei as que mais me chamaram atenção: O trabalhador rural que não conhece energia elétrica, mas gosta de coca-cola, a mulher que conquistou sua independência financeira, mas assume ainda as atividades domésticas, bem como o jovem soldado que descreve sua rotina de guerra como uma espera por comida, água e só enxerga na morte a fuga desta angústia. 

Em todas as situações podemos destacar valores característicos do século que modificou toda ordem social. O jovem sem perspectiva, envolvido por um pseudo – patriotismo – mortífero propagado pela guerra demonstra que as vidas perdem importância para a disputa de poder. Da mesma forma, a mulher questionadora na sociedade patriarcal e machista tem a idéia de liberdade conquistada pelas lutas nos processos políticos, mas não consegue alcançar a tão sonhada sociedade igualitária, simplesmente porque foge aos interesses deste modelo. Outra desigualdade se destaca na imagem do trabalhador rural que sequer possui condições de vida digna com direito à energia, mas se deixa levar pela falsa ilusão de que todos nesta sociedade são iguais e por isso tem uma preferência por coca-cola, o maior símbolo da globalização proposta pelo capitalismo.

Assim, seja no trabalho como jornalista-mecanicista, na depressão feminina na luta pela igualdade, na preferência por coca-cola ou pela falta de oportunidade e perspectiva para os jovens, a modernidade me atinge, sem deixar opção de escolha. Além disso, nessa lógica da globalização e padronização de conceitos, hábitos e valores, não há como eu, ou qualquer outro cidadão fugir deste modelo. Da mesma forma, não há como evitar  que os que lá estão por nós esperem. 

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