quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Faz muito calor, tome um tereré!


Outro dia falava aqui de uma mania minha, como não sou muito criativa, hoje faço o mesmo, entretanto o costume de hoje é muito mais que um hábito ou uma mania, trata-se de uma tradição que mantenho mesmo morando tão longe da minha terra.
Estou falando do tereré. Como? Isso mesmo Tereré, e não tererê como as pessoas insistem em chamar.
Para quem ainda não conhece, o tereré é uma bebida composta pela erva-mate e água gelada ou suco.
Para consumir a bebida, a erva deve ser colocada na guampa (copo), até encobrir a bomba ("canudo"), que filtrará a passagem da água, evitando que se sugue a erva ao invés da água.
No Brasil, o tereré foi trazido pelos paraguaios e índios guarani e kaiowá, e difundido mais comumente no estado do Mato Grosso do Sul.
Para quem não conhece pode parecer estranho, curioso e sem graça, mas para mim e para a maioria dos sul-matogrossenses envolve nossa história, cultura, raiz e identidade. Tanto que esta bebida incrível já foi citada em diversas músicas, e se faz presente não só nos fins de semana da população pantaneira, mas no cotidiano de todos que se sentem mais felizes e realizados a cada roda de tereré...


Apresentações feitas, vamos desde o início desta tradição...

Era sempre assim: a tribo derrubava um pedaço de mata, plantava a mandioca e o milho, mas depois de quatro ou cinco anos a terra se exauria e a tribo precisava emigrar à terra além. Cansado de tais andanças, um velho índio um dia se recusou a seguir adiante e preferiu quedar-se na tapera.
A mais jovem de suas filhas, a bela Jary, ficou entre dois corações: seguir adiante, com os moços de sua tribo, ou ficar na solidão, prestando arrimo ao ancião até que a morte o levasse para a paz do Ivy-Marae. Apesar dos rogos dos moços, terminou permanecendo junto ao pai.
Essa atitude de amor mereceu ter recompensa. Um dia chegou ao rancho um pajé desconhecido e perguntou a Jary o que é que ela queria para se sentir feliz. A moça nada pediu. Mas o velho pediu: "Quero renovadas forças para poder seguir adiante e levar Jary ao encontro da tribo que lá se foi".
Entregou-lhe o pajé uma planta muito verde, perfumada de bondade, e ensinou que ele plantasse, colhesse as folhas, secasse ao fogo, triturasse, botasse os pedacinhos num porongo, acrescentasse água quente ou fria e sorvesse esta infusão.
"Terás nessa nova bebida uma companhia saudável mesmo nas horas tristonhas da mais cruel solidão". Dada a receita, partiu.
Foi assim que nasceu e cresceu a caá-mini. Dela resultou a bebida caá-y que os brancos mais tarde adotaram com o nome de tereré.
Sorvendo a verde seiva o ancião retemperou-se, ganhou força, e pôde empreender a longa viagem até o reencontro com os seus. Foram recebidos com a maior alegria. E a tribo toda adotou o costume de beber da verde erva, amarguentinha e gostosa, que dava força e coragem e confortava amizade mesmo nas horas tristonhas da mais total solidão.

Ainda sobre tereré...

Os mandamentos:


1. Amar o tereré sobre todas as coisas. (Exatamente!)
2. Não mexas na bomba! (Principalmente se eu estiver por perto.)
3. Nunca peças para colocar açúcar na água. (Minha erva é aromatizada. =D)
4. Não digas que o tereré é anti-higiênico. (Até porque não é... =p)
5. Não deixes um tereré pela metade. (Principalmente se eu estiver por perto.[2])
6. Não te envergonhes do "ronco" no fim do tereré. (Adoro!)
7. Não derramar a sagrada erva. (Jamais! Nunca!)
8. Não "durmas" com a guampa na mão. (Este mandamento nem deveria existir.)
9. Tomar tereré todos os dias. (Opa, com certeza, ou pelo menos enquanto houver erva.)


Faz muito calor? Tome um tereré!

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